Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

domingo, 27 de abril de 2008

Escritor Paulo Conserva relembra fatos do Golpe Militar de 64 em conversa com o editor.

Esta semana, mas precisamente na quarta-feira, 23, completou 44 anos do Golpe Militar de 1964 ano da Revolução que derrubou o presidente João Goulart. Personagem naquele episódio histórico o escritor Paulo Conserva (foto), relembrava emocionado, em conversa com o editor na quinta-feira, 24, fatos ocorridos naquela Revolução. Realmente uma história rica que Itaporanga deve se orgular de ter Paulo Conserva, para contar. Paulo é autor de grande obras literárias, como o romance costumbrista 'A Revolução de Migiqui' e do testemunho político 'Navegando no Exílio - Memórias de um Marinheiro'.
Assim que foi deflagado o Golpe Militar de 1964, Paulo Conserva e outros companheiros foram presos por 'insubordinação'. Devido sua participação no levante dos marinheiros, exilou-se no México, Cuba, Alemanha e Checoslováquia. Estreou no jornalismo nas rádios de Berlim e Havana. Beneficiado pela Anistia no Governo João Figueiredo, retornou ao Brasil em 1980. A partir de então começou escrever crônicas no Jornal A União. Filiado à Associação Paraibana de Imprensa (API), ele é, ainda, membro do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro e da Academia Brasileiro de Estudos e Pesquisas Literárias. Em nosso bate-bapo, o amigo Paulo Conserva presentou-me com o documentário "Retrospectiva dos 25 anos da UMNA - em homenagemao marinheiro João Cândido". Produzido pela Unidade de Mobilização Nacional pela Anistia (antiga União dos Militares Não Anistiados), com sede na avenida treze de maio no Rio de Janeiro, este video mostra a luta destes distintos brasileiros.
O episódio de 1964 se desenrolou sob circunstâncias históricas, de toda a luta que se havia travado e desenvolvido na sociedade e no Estado brasileiro. Acontecimentos como o golpe contra Getúlio Vargas, em 1954, que culminou com sua morte, ou a tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek, em 1955, todas essas formas de lutas influenciaram os protagonistas dos acontecimentos de 1964. A Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais (AMFNB) foi acusada de motim e subversão. No caso particular da Marinha, havia o exemplo histórico da revolta contra os castigos corporais em 1910 - mais conhecida como “Revolta da Chibata”, onde em 22 de novembro um levante liderado pelo marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, o ‘Mestre sala dos mares’, que abordo dos principais navios da Marinha do Brasil combatia os castigos físicos, impostos aos marinheiros punidos por indisciplina, através de açoites.
No Rio de Janeiro, o ódio ao populismo era tão grande que oficiais lacerdistas da Marinha se revoltaram quando o presidente João Goulart promoveu o Contra-Almirante Cândido Aragão ao posto de Vice-Almirante. Cândido Aragão havia começado no Corpo de Fuzileiros Navais, como simples soldado. À semelhança dele, existiam muitos oficiais que tinham chegado a postos superiores e começados como marinheiros. Na Marinha, o serviço secreto caluniou a AMFNB desde o início. Em Ladário, base naval do Mato-Grosso, oficiais invadiram a sede da AMFNB, rasgaram cartazes da Petrobrás e de apelos à encampação das refinarias particulares e ameaçaram os diretores locais da Associação. No cruzador Tamandaré, o Comandante José Uzeda tentou intimidar o marinheiro Paulo Conserva, Delegado da Associação a bordo do Navio. Eis aqui partes do “diálogo”, entre o Comandante Uzeda e o marinheiro Paulo Conserva.
O Comandante: - Você acaba de afirmar que não sabe que essa pocilga, da qual participa, é ilegal e subversiva. Você desconhece o fato ou está mentindo? (...) Neste momento, irado, o comandante, com o indicador da mão direita nas narinas do marinheiro, - Mentira, Senhor Conserva. Tenho suficientes informações acerca de suas atividades. Paulo Conserva, ao se defender tentou explicar que a função da Associação era recreativa, comparando-a aos clubes de Sargentos e clubes de Oficiais. Essa afirmação ofendeu o Comandante José Uzeda. Era dentro desse clima social e político, poderia dizer disciplinar, que a organização dos marinheiros atuava. Em 25 de março de 1964, aproximadamente 1.000 marinheiros se reuniram no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, com a finalidade de comemorar o segundo ano da fundação da AMFN, evento esse que teve como presidente de honra, o ex-marinheiro João Cândido. O que deveria ser um ato festivo, logo se transformou em fato político, acarretando em uma grande debandada da reunião, restando no Sindicato em torno de 300 marinheiros e fuzileiros, que permaneceram aquartelados até o dia 27 de março, cercados por tropas da Marinha. Entre outras coisas, as principais reivindicações eram: 1 - Direito ao voto; 2 - Poder casar; 3 - Poder trajar a paisana, quando de licença; 4 - Poder estudar (os que o faziam eram perseguidos e prejudicados na hora da licença).
João Cândido teve, ainda, um reconhecimento de sua trajetória por aquela geração de marujos que, até por justiça, propiciou ao velho marujo um apoio material, já que a anistia oficial concedida pós Revolta da Chibata foi convenientemente posta de lado assim que a situação política permitiu às oligarquias o controle da situação, fato muito bem apresentado no clássico livro de Edmar Morel.

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