O democrata Barack Obama foi eleito no começo da madrugada desta quarta-feira o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o 44º da história do país. "Se pessoas ainda têm dúvidas de que a América é o lugar onde as coisas são possíveis, que ainda acreditam que o sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, se ainda questionam o poder da nossa democracia, esta noite é a sua resposta", afirmou Obama em seu discurso de vitória, a milhares de partidários, em Chicago, Illinois --Estado pelo qual Obama é senador. Obama usou a história de uma americana de 106 anos para dizer que ela assistiu episódios de mudança como a chegada do homem à Lua e a queda do Muro de Berlim, e que, nesta eleição, "tocou uma tela com seu dedo e registrou seu voto porque, depois de 106 anos na América, ela sabe que a América pode mudar".

No discurso, Obama confirmou ter recebido um telefone do adversário, o republicano John McCain, reconhecendo a derrota. Ele ainda agradeceu a mulher, Michelle, toda a dedicação dada durante a campanha. "Eu não estaria aqui se não fosse pela rocha da minha família, o amor da minha vida, a próxima primeira-dama dessa nação, Michelle."O novo presidente vai à Casa Branca, em janeiro, com a cara de gerente de crise. A maior crise financeira desde o crash de 29. Nos discursos de campanha, Obama dirigia-se, primeiro, ao coração de suas platéias. Só depois captuva-lhes as mentes. Ficou a impressão de que sua fala carece de densidade. Numa fase em que Hillary Clinton ainda media forças pela vaga do Partido Democrata, Bill Clinton disse: “Você pode fazer campanha em poesia, mas governa em prosa”. A metáfora do marido de Hillary resume o drama de Obama.

Em julho passado, falando para uma multidão de cerca de 200 mil pessoas, em Berlim, Obama pontificara: "Eu sei que não pareço com os americanos que já falaram aqui. A história que me trouxe aqui é improvável". Antes, esmerara-se na construção de analogias em torno dos escombros do Muro de Berlim. Mencionara o fantasma dos muros da pós-modernidade. Muros "entre raças e tribos, nativos e imigrantes, cristãos e muçulmanos e judeus". São paredes que, no dizer de Obama, "não podem continuar de pé".
A hora, dicursara Obama, é de "construir pontes” ao redor do planeta. Nada mais sensato. Nada mais improvável, contudo. Hoje, apenas o dinheiro dispõe de liberdade para passear pelo mundo. A pecúnia não tem pátria. Vai para onde ganha mais. Daí a natureza global da crise. Aos pobres que ousam pular os muros da pós-modernidade sonega-se a mesma desenvoltura. A eles são reservadas a prisão, a humilhação e a deportação.
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