Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Chaleira é um assexuado político

Bajulador é um caso muito sério, um tanto quanto afetado. Ofensivo, até, quando se refere àquela boa alma que outro propósito não lhe cabe a não ser fazer bem ao chefe. Esse tipo pende mais para o xeleléu ou, como dizem lá em Curiacia, Chaleira. Ele não gosta que ninguém seja contrário ao seu amo, o defende fervorosamente porque espera, ou já conseguiu, receber de tudo de na vida. Deve ao benfeitor, da casinha ao emprego, geralmente público, parcamente remunerado, mas com a enorme vantagem de não exigir contrapartida alguma em trabalho. O único trabalho do Chaleira é agradar seu chefe, seu amo. Rir das suas piadas sem graça, amofinar-se no lundu do outro ou sofrer de verdade todos os sintomas e dores das doenças reais e imaginárias do seu amo e senhor.
O importante é saber que o Cheleirice é necessidade de sobrevivência. Seus praticantes e cultores acostumaram viver desse jeito. A maior parte por limitações ou falta de oportunidades. Tanto que o perfil definido em censo mostra que o Chaleira típico tem instrução educacional baixa. É burro por nascença. Lembro de um conto que mostra que na pequena Cariacia certa vez o capitão Zé Borne, representante legítimo do coronelismo, gostava de ler jornal em alta voz só para sentir o efeito que causava em Paquinho, seu fiel escudeiro, sempre por perto, um Chaleira nato. O capitão assombrou-se com o anúncio de que o major Calle iria propor medidas duras ao parlamento... Sem dar conta da procedência da informação, capitão Zé Borne subiu o tom da leitura para impressionar ainda mais o seu ouvinte preferencial - Eita, Paquinho, olha essa aqui: major Calle quer o apoio dos deputados - disse o capitão. - Nossa, capitão! O homem é forte, né não! Ele é do partido? É dos nosso, é? - quis saber o Chaleira.
Noutra passagem, Paquinho havia passado um tempo sem prestígio no local onde deveria trabalhar, em vez de ficar desocupado todo dia e o dia todo. Para conseguir uma gratificaçãozinha ele aqui e acolá atolava em seus senhores mas quando um deles chegou de viagem a primeira coisa que fez foi mandar preparar um bolo de fubá, dos mais gostosos, e levou logo cedinho para o café da manhã do amo. Pronto estava ganho a gratificaçãozinha e, ainda, continuava sem dar expediente. Quer coisa melhor? A chateação foi demasiada, por terceiros: "Se fosse comigo ia lá e dava um tabefe na cara dele", incentiva seus 'amiguinhos', entre eles, um cozinheiro e um feirante. Incentivada a desavença os 'amiguinhos' começaram a rir quando Paquinho saiu à procura de um fulano para tascar um tabefe nele, não conseguindo êxito.
Certa vez o capitão Zé Borne então candidato a prefeito de Cariacia tinha como principal tarefa, em caso de vitória, comprar um terreno para construção de um novo cemitério, o existente já estava lotado não cabia mais sequer um anjinho. A solução, comprar área próxima, de preferência vizinha, para instalar o anexo. Havia, uma perfeita. O único problema era o dono, seu Cata, tão “dado” quanto o candidato. Negociar a compra, para não ter que desapropriar, seria o melhor a fazer. Para sorte do capitão/prefeitável, Paquinho, seu Chaleira mais apegado, poderia ajudar. Ele conhecia e tinha acesso a seu Cata. Os entendimentos fluíram bem, mas, na hora de bater o prego e virar a ponta, seu Cata achou de fazer uma “graça”. – capitão, a gente só faz negócio se o senhor me garantir que a gente inaugura o novo cemitério com Paquinho. Paquinho, presente, desatou a rir. Seu Cata não gostou. Fechou a cara, levantou-se, assungou a calça, esfregou as mãos e, sem dar chance para um aturdido Zé Borne se refazer, anunciou: - Vendo mais não. Vendo não, capitão. Do jeito que esse Paquinho é Chaleira é bem capaz dele morrer só para lhe agradar...
O Chaleira ou Bajulador é um hermafrodita, um assexuado político, o seu prazer, o seu orgasmo é puxar saco, adular. Vive em permanente estado de rastejamento, mas em hipótese alguma utiliza o desconfiômetro. Você nunca encontrará um bajulador com opinião, pois o seu cérebro apresenta 99% de seu espaço ocupado não por neurônios, mas sim com uma composição orgânica gelatinosa por mim denominada de "cerebrus vulgaris ventoso". Época de campanha política é um terreno fértil para a Bajulação. Tem Chaleira ou Bajulador com surtos de baba tal qual uma vaca com aftosa quando ouve um discurso político. O Bajulado tem seu ego sempre massageado, enquanto que o Chaleira ou Bajulador tem a sua auto-estima a um palmo daquele lugar.

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