Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Luís Torres: "O necrológio político de Maranhão"

O senador Maranhão está em vias de ser substituído. A apatia pela qual ele singrou essas eleições municipais aponta para um político que se despede das capas de revistas para compor os arquivos jornalísticos.
Depois de praticamente mandar na política paraibana por quase dez anos, Maranhão se prepara agora para assumir um estágio dado aos sábios antigos de uma tribo: são respeitados pela trajetória e experiência, mas não tão queridos quanto os guerreiros novos.
O último suspiro de Maranhão veio com a cassação do governador Cássio pelo TRE, naquele dia 31 de julho de 2007. Por meses, sustentou como um jovem atleta o título de governador autêntico da Paraíba, prestes a assumir o mandato.
Mas o tempo de pés velozes, como dirá Shakespeare, foi passando e com ele as incertezas da posse. Maranhão foi dando sinais de cansaço, assim como seus advogados, e toda sua militância. A tristeza e apatia política foram se fixando no semblante de Maranhão proporcionalmente à redução da esperança de julgamento do recurso contra cassação no TSE.
E o pior é que o que se vem pela frente revela ainda mais desalento. O TSE está abarrotado de processos das eleições de 2008. Ainda não julgou recursos contra impuganção de diplomas. E, no dia 20de dezembro deste ano, fecha as portas para somente reabrir em 2009. Enquanto isso, Maranhão vai dançando ao sabor do nada. Não participou ativamente de nenhuma grande campanha política do PMDB na Paraíba. Nem das que perdeu. Nem das que ganhou.
Não deu sequer uma declaração forte sobre as sucessões em questão. Não esteve em João Pessoa, ignorou Bayeux, fugiu de Santa Rita, não teve espaço em Cajazeiras, perdeu em Sousa, em Sapé, Monteiro e, por fim, reconheceu que não tem o que peso para ajudar na campanha de Veneziano, em Campina. “Não faço falta”, disse Maranhão, quase que dando a adeus num leito de hospital.
Claro que Maranhão não morreu. Ainda é forte e peça importante para 2010, em qualquer ocasião e composição. Mas não mais como protagonista da cena política, e sim como coadjuvtane. Uma espécie de Morgan Freeman em um Sonho de Liberdade: fundamental para a composição do filme, mas cujo roteiro se desenrola sobre outro. Há quem aposte num senador Maranhão forte para disputa novamente ao governo do Estado em 2010.
Quem aposta nisso parece desprezar a apatia com que Maranhão tratou 2008. Quem não teve coragem de colocar a cara para bater na briga dos outros, dificilmente terá disposição para colocar a cara numa briga própria.
Maranhão vai, na verdade, se despedindo da linha de frente dos exércitos políticos em disputa, assim como aconteceu com tantos outros, na Paraíba, no Brasil e no mundo. E se ainda há uma forma de prolongar esse estado terminal com a cassação do governador no TSE não existe uma fórmula para manter viva a chama de uma espera que caminha para os dois anos.
Por enquanto, Maranhão parece que adotou Augusto dos Anjos como leitura obrigatória e anda recitando versos como “Bati nas pedras de um tormento rude/ e minha mágoa de hoje é tão intensa/ que eu penso que a alegria é uma doença/ e a tristeza é minha única saúde”.

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