Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Misael Nóbrega: "CIRCULOS E SEMICIRCULOS"

CIRCULOS E SEMICIRCULOS
Por Misael Nóbrega de Sousa
Ando espiando os passos no chão de seixos a sombra do espectro do homem morto que caminha sem rumo na direção da partida de volta conhecida (ou desconhecida) é chaga é alma bandida transpiração em pingos os anos e medos acumulados são fardos pensamentos também árduos há perdas pelo percurso reviravoltas um desgosto o eixo gravitacional círculos e semicírculos vícios o ontem a deslembrança a resignação a esperança se esvaindo e a vontade de que tudo seja diferente o pecado presente o egocentrismo a vaidade a razão e a sensibilidade à flor da pele misto de loucura e por vezes esse mesmo lapso é a escapada vida pulso ar primavera alteração em todos os cantos um abraço de um pequeno milagre a frouxidão das lágrimas mais dor as perguntas ferem por que simplesmente não aceitar um urro de resistência um tardio instante de tolerância isolamento que frustra todavia que revigora não reprime liberta a comoção de si é a retaliação alheia é o descabido não se pode fugir do inimigo a lição é a única verdade vertente latente exacerbação quisera ser o espelho do pequeno que me deu o abraço e “o seu escudo e a sua fortaleza” e poder voar e na plenitude da existência ser comum não emendar não surtar apenas gozar o menor esforço do escafandro ser tampouco gigante e maravilhar-me e poder também parar ao invés de tão somente andar e não olhar o chão mas o horizonte e alcançar a igualdade no limite territorial do nunca onde o impossível se torna possível e a fronteira do céu e da terra fica bem atrás de minha casa no limiar da perfeição ossos peles escamas não são mais escoras não mais partes não mais aflições e ficam à margem para sempre esquecidas e cada vez mais longe de mim numa demonstração de maturação mesmo que demorada insisto no desejo de querer mudar mas persisto na dúvida de não saber escolher o revés ainda assombra e a noite chega para completar o cenário do mundo cego o escuro tapa a lua num eclipse sazonal o meu sentimento é lúgubre o meu entendimento é racional a minha perversidade é carnal o meu refluxo é um mal passageiro à deriva da condição existencial controle necessário para não beirar à demência no salto da morte uma platéia desinteressada o que se passa ao derredor da vida é a verdadeira inspiração e não se nota a presença de Deus pelo fato de que somos vãos pessoas medonhas raquíticas mesquinhas inventamos as chacotas para não perdermos a noção das coisas e brincamos de divindade criadores ou criaturas perguntamo-nos e alguns são tão estúpidos que se acham intermináveis meio que assim vivo colecionando coisas como se o hábito ajudasse a contar as histórias e servisse para melhorar o mundo lá fora na tentativa de ser diferente por dentro não suportamos quaisquer desonra sequer perdoamos ritualistas como autistas mendigamos o menor dos quereres numa relação infantil de retornar ao útero e isso é mais que uma desculpa um reflexo reação estranha pois é recorrente tratamos os nossos pares com desconfiança e o que poderia ser amor é apenas retraço de um desenho sem graça terminamos mais ou menos como começamos círculos e semicírculos vícios o ontem a deslembrança a resignação a esperança se esvaindo...
Professor e Jornalista

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