Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Misael Nóbrega: "O PREMATURO"

O PREMATURO
Por Misael Nóbrega de Sousa
O menino nasceu com a missão de salvar a família. Existia uma dezena de problemas. Ele mesmo era um problema. Havia nascido prematuro. O pai correu o mundo para socorrer o filho. A mãe chorou o mundo. Houve dias em que não existia paz. Houve noites em que não existia paz. E houve tempo em que não existia: dia, noite ou paz. Os remédios eram demais. Os amores eram de menos. De sorte, o menino de raquítico, foi ficando mais nutrido. Era o pai que alimentava a mãe. Era o peito da mãe que alimentava a cria. Era o leite que o nutria. Era o pai que lhe sorria. O pai agora corria menos. A mãe agora chorava menos. Houve dias de paz. Houve noites de paz. E houve tempo em que existiam: dia, noite e paz. Os remédios passaram a ser de menos. Os amores passaram a ser de mais. De sorte, o menino de fraco, foi ficando mais forte. Era o pai que continuava a alimentar a mãe. Era o peito da mãe que ainda alimentava a cria. Era o leite que o nutria. Era o pai que lhe abraçava e também lhe sorria. O pai agora ficava mais em casa. A mãe já não mais chorava. Houve dias de abundante paz. Houve noites de abundante paz. E houve tempo em que existiam: dia, noite, paz... E, às vezes, amor. Os remédios não eram mais prescritos. O afeto transbordava. De sorte, o menino de adoentado passou a ser saudável. Mas, o pai perdera o emprego, e não podia mais alimentar a mãe. O leite do peito da mãe secara, e não mais nutria a cria. O pai deixara de lhe abraçar, e não mais lhe sorria. O pai não durava mais em casa. A mãe continuava sem chorar. E voltaram os dias de inquietação. E voltaram as noites de inquietação. E voltou o tempo em que não existiam: dia, noite ou paz. E, foram ressuscitadas as dezenas de problemas, do menino que nascera com a missão de salvar a família. Foram prescritos novos remédios. Os amores voltaram a ser de menos. A sorte abandonou o menino, que de sadio voltou a ficar adoentado. O pai agora batia na mãe. A mãe agora batia no filho. Apenas o ódio o nutria. Era o pai; e era a mãe; e eram os dias; e eram as noites; e não houve mais, um tempo sequer, de abundante paz. O menino, de forte foi ficando mais fraco. O pai virara alcoólatra. Um brilho no olho da mãe era o fio esperança. Não existiam mais: leite, abraços, sorrisos, a presença do pai, a paciência da mãe, o afeto. E eram os dias; e eram as noites; e não houve mais, um tempo sequer, de abundante paz... Tampouco amor. O menino, de nutrido foi definhando, e voltara a ser raquítico. O pai morreu. A viúva não chorou sequer o luto. A mãe que gerou o menino se perdera no caminho de muitas voltas. O menino que havia nascido prematuro, e com a missão de salvar a família, fora despejado no mundo com a obrigação de salvar a si mesmo. Roda pião.
Jornalista e professor

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