E para fechar o domingo nada melhor do que uma volta aos tempos de outrora, diante do belo texto de Marcos Marinho relatando as reuniões do velho PMDB quando em busca de se fechar candidaturas majoritárias ao Governo do Estado. Confira o relato abaixo com o título: "A Conspiração"..."Um dos fatos mais marcantes que relembro, da minha passagem por Brasília assessorando Raymundo Asfóra, foi uma reunião no apartamento de Aluízio Campos quando se afunilava o processo de escolha do nome do PMDB para compor a chapa majoritária em 1986.
O encontro começou descontraído, regado a algumas doses de cavalo branco, e toda a bancada paraibana peemedebista lá esteve, além de luminares da cúpula partidária: o anfitrião Aluízio Campos, Raymundo Asfóra, Antonio Mariz, Tarcisio Burity, Carneiro Arnaud, José Maranhão, o então prefeito de Campina Grande Ronaldo Cunha Lima, e o poderoso presidente do Senado Federal, Humberto Coutinho de Lucena.
Abobrinhas foram discutidas, piadas foram contadas à exaustão, as bandejas de tira-gostos todas consumidas, dezenas de telefonemas dados para jornalistas na Paraíba, e nada.
A noite avançava e em dado momento o espirituoso Asfóra, já acelerado pela quarta ou quinta dose do bom escocês, deparou-se com intrigante silêncio do dono da casa aboletado no sofá luxuoso do recinto e em sobressalto alertou a platéia: "Aluízio já tá dormindo, vamos embora!".
O filho de Afonso Campos roncava, de verdade, embora poucos percebessem isso já que o seu olho de vidro sempre aberto camuflava a realidade.
O sono que derrubou Aluízio era o mais acabado retrato da inocuidade daquela reunião, que nada afinal decidiu. E coube ao mesmo Raymundo Asfóra o chamamento histórico: "Acorda Aluízio, manda servir o jantar que daqui não vai sair candidato nenhum". E não saiu mesmo.
Já sentados à larga mesa de jantar, onde fomos servidos com um especial frango fatiado defumado, receita que aprendi e ainda hoje preparo em casa quando convido amigos para festas noturnas, Asfóra continuou a provocar gargalhadas: "Pode me chamar toda noite que eu venho, Aluízio, pelo menos a gente faz você botar a mão no bolso", brincava aludindo ao conhecido lado suvino do anfitrião.
E em meio a tudo, quando a sobremesa estava servida, ainda foi Asfóra quem deu o fecho exato da noite, em registro ao tempo perdido: "Também, Aluízio, fora eu e Carneirinho (Carneiro Arnaud, deputado federal) tu só chamasse quem é candidato!".
De fato, ninguém queria decidir nada, e não podia mesmo, porque o fórum da decisão não era aquele, mesmo com a sua alta qualificação.
Quando Ronaldo foi convidado a falar, centrou-se em loas a sí, desejoso já àquela época de fixar-se no Palácio da Redenção.
Chegada a vez de Mariz, não foi diferente: exaltou as suas qualidades e apontou que aquela deveria ser a sua vez.
Humberto Lucena chegara com as fichas mais altas, naquela sala era mesmo o cacique maior e falou com duas pitombas na boca, nem mais parecendo um pré candidato.
Tarcísio Burity, então, nem se fala. Supra-sumo da inteligência, tinha como certo ser o mais qualificado, o mais importante, o mais genial. E não abria mão de assim se portar. Maranhão foi o que menos falou, mas também não se fez de rogado.
E é claro que uma reunião com tantos interesses pessoais não poderia prosperar, levando em conta a agenda excludente na busca de um nome para disputar o Governo da Paraíba. Se só haviam candidatos, melhor tomar o cavalo branco de Aluízio, avisava Asfóra.
Lembro essa noite para situar o quadro presente, onde o PMDB se enrola outra vez na hora da escolha do candidato ao Governo. Naquela da casa de Aluízio Campos, em Brasília, a sinceridade de Asfóra fez a diferença. Quando foi chamado a se pronunciar, ele disse sem meias palavras que defendia, por ser campinense, o nome de Ronaldo Cunha Lima e ponto final. E que, diferentemente dos demais, não pretendia ser candidato. Ressalvou – lembro bem - que por isso mesmo a reunião deveria se restringir aos comes-e-bebes, pois nascida inócua.
Resumo da ópera: sagrou-se candidato Tarcisio de Miranda Burity, eleito tendo como vice o próprio Asfóra, que matou-se oito dias antes da posse. E se me perguntarem qual foi a fórmula para chegar-se ao nome do professor, eu respondo imediatamente: trabalho, organização, planejamento, muita manha, amigos na mídia e alta dose de conspiração.
Isso mesmo. Burity não dormia e não bebia, só conspirava. E trabalhou dessa forma contra os demais em todos os instantes. Depois, danou-se Paraíba a dentro costurando apoios secretos que vingaram na hora precisa.
Ajoelhado aos seus pés, não restou mais tarde ao PMDB outra alternativa que não fosse a de apoiá-lo.
Hoje, com ligeiras variações, o quadro se apresenta o mesmo. Resta mensurar a competência e a desenvoltura dos atores. E sobretudo o nível conspiratório, que tem peso e pode outra vez decidir.
DETALHE (I) - Naquele ano da reunião no apartamento de Aluízio Campos quem mandava no PMDB paraibano era Humberto Lucena, que o presidia. E ele era tido e havido como o candidato nato, considerando o fato inclusive de ter sido preterido na eleição anterior, quando também achava que reunia todas as condições para ser o candidato.
DETALHE (II) - Naquele ano da reunião no apartamento de Aluízio Campos quem menos mandava no PMDB era Tarcísio Burity, titular de mandato de deputado federal e no currículo a marca de ex-governador do Estado. Ronaldo já o odiava, Mariz nem se fala, Asfóra trabalhava em favor de Ronaldo, Maranhão mineiramente disfarçava e os demais o espiavam com desdém."
O encontro começou descontraído, regado a algumas doses de cavalo branco, e toda a bancada paraibana peemedebista lá esteve, além de luminares da cúpula partidária: o anfitrião Aluízio Campos, Raymundo Asfóra, Antonio Mariz, Tarcisio Burity, Carneiro Arnaud, José Maranhão, o então prefeito de Campina Grande Ronaldo Cunha Lima, e o poderoso presidente do Senado Federal, Humberto Coutinho de Lucena.
Abobrinhas foram discutidas, piadas foram contadas à exaustão, as bandejas de tira-gostos todas consumidas, dezenas de telefonemas dados para jornalistas na Paraíba, e nada.
A noite avançava e em dado momento o espirituoso Asfóra, já acelerado pela quarta ou quinta dose do bom escocês, deparou-se com intrigante silêncio do dono da casa aboletado no sofá luxuoso do recinto e em sobressalto alertou a platéia: "Aluízio já tá dormindo, vamos embora!".
O filho de Afonso Campos roncava, de verdade, embora poucos percebessem isso já que o seu olho de vidro sempre aberto camuflava a realidade.
O sono que derrubou Aluízio era o mais acabado retrato da inocuidade daquela reunião, que nada afinal decidiu. E coube ao mesmo Raymundo Asfóra o chamamento histórico: "Acorda Aluízio, manda servir o jantar que daqui não vai sair candidato nenhum". E não saiu mesmo.
Já sentados à larga mesa de jantar, onde fomos servidos com um especial frango fatiado defumado, receita que aprendi e ainda hoje preparo em casa quando convido amigos para festas noturnas, Asfóra continuou a provocar gargalhadas: "Pode me chamar toda noite que eu venho, Aluízio, pelo menos a gente faz você botar a mão no bolso", brincava aludindo ao conhecido lado suvino do anfitrião.
E em meio a tudo, quando a sobremesa estava servida, ainda foi Asfóra quem deu o fecho exato da noite, em registro ao tempo perdido: "Também, Aluízio, fora eu e Carneirinho (Carneiro Arnaud, deputado federal) tu só chamasse quem é candidato!".
De fato, ninguém queria decidir nada, e não podia mesmo, porque o fórum da decisão não era aquele, mesmo com a sua alta qualificação.
Quando Ronaldo foi convidado a falar, centrou-se em loas a sí, desejoso já àquela época de fixar-se no Palácio da Redenção.
Chegada a vez de Mariz, não foi diferente: exaltou as suas qualidades e apontou que aquela deveria ser a sua vez.
Humberto Lucena chegara com as fichas mais altas, naquela sala era mesmo o cacique maior e falou com duas pitombas na boca, nem mais parecendo um pré candidato.
Tarcísio Burity, então, nem se fala. Supra-sumo da inteligência, tinha como certo ser o mais qualificado, o mais importante, o mais genial. E não abria mão de assim se portar. Maranhão foi o que menos falou, mas também não se fez de rogado.
E é claro que uma reunião com tantos interesses pessoais não poderia prosperar, levando em conta a agenda excludente na busca de um nome para disputar o Governo da Paraíba. Se só haviam candidatos, melhor tomar o cavalo branco de Aluízio, avisava Asfóra.
Lembro essa noite para situar o quadro presente, onde o PMDB se enrola outra vez na hora da escolha do candidato ao Governo. Naquela da casa de Aluízio Campos, em Brasília, a sinceridade de Asfóra fez a diferença. Quando foi chamado a se pronunciar, ele disse sem meias palavras que defendia, por ser campinense, o nome de Ronaldo Cunha Lima e ponto final. E que, diferentemente dos demais, não pretendia ser candidato. Ressalvou – lembro bem - que por isso mesmo a reunião deveria se restringir aos comes-e-bebes, pois nascida inócua.
Resumo da ópera: sagrou-se candidato Tarcisio de Miranda Burity, eleito tendo como vice o próprio Asfóra, que matou-se oito dias antes da posse. E se me perguntarem qual foi a fórmula para chegar-se ao nome do professor, eu respondo imediatamente: trabalho, organização, planejamento, muita manha, amigos na mídia e alta dose de conspiração.
Isso mesmo. Burity não dormia e não bebia, só conspirava. E trabalhou dessa forma contra os demais em todos os instantes. Depois, danou-se Paraíba a dentro costurando apoios secretos que vingaram na hora precisa.
Ajoelhado aos seus pés, não restou mais tarde ao PMDB outra alternativa que não fosse a de apoiá-lo.
Hoje, com ligeiras variações, o quadro se apresenta o mesmo. Resta mensurar a competência e a desenvoltura dos atores. E sobretudo o nível conspiratório, que tem peso e pode outra vez decidir.
DETALHE (I) - Naquele ano da reunião no apartamento de Aluízio Campos quem mandava no PMDB paraibano era Humberto Lucena, que o presidia. E ele era tido e havido como o candidato nato, considerando o fato inclusive de ter sido preterido na eleição anterior, quando também achava que reunia todas as condições para ser o candidato.
DETALHE (II) - Naquele ano da reunião no apartamento de Aluízio Campos quem menos mandava no PMDB era Tarcísio Burity, titular de mandato de deputado federal e no currículo a marca de ex-governador do Estado. Ronaldo já o odiava, Mariz nem se fala, Asfóra trabalhava em favor de Ronaldo, Maranhão mineiramente disfarçava e os demais o espiavam com desdém."
Será que o prefeito de Campina Grande Veneziano Vital triunfará no PMDB como o Tarcísio Burity de ontem... daqui a um ano saberemos!
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