Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

domingo, 5 de julho de 2009

Misael Nóbrega: "ANJO DE PEDRA"

Com muita alegria postamos e-mail nos enviado pelo mestre, professor, jornalista e escritor, além de fotógrafo, Misael Nóbrega, incansável ativista cultural da cidade de Patos. Recentemente ele lançou mais uma obra literária, A Rua grande de meus pais. Edição comemorativa dos 105 anos de elevação de Patos à categoria de cidade, em A Rua grande de meus pais, Misael faz um passeio nostálgico pela cidade, seus costumes, sua cultura, sua gente simples.
Confira texto abaixo:

ANJO DE PEDRA
Por Misael Nóbrega de Sousa
Tua presença é cortante igual o fio da navalha; melhor seria se me esperastes à porta do céu, feito anjo custódio. Nenhuma imperfeição é tua por direito. E não há merecimento humano para a tua carne imaculada. Vens de um tempo ausente – Mesmo que longe de tudo que é soturno. Dimensão. Outro exagero dos deuses. Espaço. Tempo. Existir. Reações. Frações. O novelo de meus dias é a chaga eterna da saudade. Aposso-me do impossível e sirvo-me do cálice das horas. E quando a luz penetra por todos os poros de meu corpo sofrível... Assim me concebo. Pão. Quais partes pertencem a mim? Aguardo a seara do trigo na palidez acentuada desta terra miserável. – O paraíso é um lugar de hábitos infindos. Próprio de ti. Eu não o mereço, enfim. Sou uma aberração que nutre a idéia da posteridade. Nada se faz novo. Senão por ti, os meus medos seriam mais que vencedores. Rasgo a dor; e a dor sorri do ato vão. Posso ser inclemente, mas também posso ser inerme. E as lágrimas se apoucaram. O que há, então? Folhas secas descolorindo caminhos. Janelas emoldurando os destinos. Painéis. Cenários. Retratos. Traços. Augusto rosto que me agoniza às madrugadas de todos os janeiros. És uma aparição do ventre de minha mãe?. Por que vens testemunhar o meu sono aflito? Já não há lugar para ti na cosmologia, como bem disse? Ou és o meu amor que eu nunca tive? Demoníaca confusão que me difere. Os embaraços são próprios. Os suores impregnam os lençóis como se dissecassem as dúvidas. Mas, não receberei o céu. Terei o meu próprio canto. E serei rei. Absurdamente impotente perante os súditos. Nada ordenarei. Não direi que pregarei o caos, pois nada serei. Assemelharei o meu governo aos dias desprezíveis de então. Vagarei. Sim, vagarei por entre os céus das virgens Marias que conheci. E repetirei os pecados. Saias de minha vida e de minha morte, anjo de pedra. Não quero ouvir nenhuma epístola. Não há como endireitar o meu andar coxo. Apenas me concedas um desejo – Talvez o maior de todos eles – O desejo de saber morrer – Sem a ignorância dos comuns nem a empáfia dos escribas – Apenas com o assentimento de que mereci viver.
Professor e jornalista

Nenhum comentário: