Marcos Alfredo: "Um governo desencontrado"

As lambanças no Diário Oficial de atos suspeitos, nomeações questionadas dentro do próprio governo e portarias tornando atos sem efeito, pela pura constatação de incompetência na atribuição de nomear, são apenas alguns reflexos de um Maranhão III desencontrado; são o retrato mais visível de que existe muita coisa atabalhoada dentro de uma equipe que evidencia falta de rumo e de prumo.

A certeza que se consolida a cada dia é de que, após a euforia de uma vitória sem o glamour democrático ou a legitimidade das urnas, o governador José Maranhão sucumbe diante de uma realidade constrangedora: até tinha projeto de poder; falta-lhe, desde o início, um projeto de governo.

O procurador geral do Estado, Marcelo Weick, até tentou. Tão logo foi denunciada a nomeação do filho do advogado Nadir Valengo, ex-juiz do TRE, para um cargo de gerência no Palácio da Redenção, Weick tratou de assumir uma versão constragedora: teria havido uma "armação" contra o governador, dentro do próprio governo. Abriu uma sindicância para apurar os "responsáveis". Pode não ser convincente, mas foi uma resposta.

O problema é que, desde então, Sr. Weick, têm sido tantos os casos de portarias suspeitas publicadas que vai ficar difícil agora usar a mesma desculpa, apelar para o mesmo recurso das "sindicâncias". Isto sem falar no aspecto ético. São inúmeras as nomeações de integrantes do Poder Judiciário; há o caso da mulher do ministro Francisco Falcão, do STJ; atos governamentais nomeando parentes em escala industrial; gente nomeada para cargos que não existem; outros tantos assumindo funções em duplicidade...E não fica por aí.

O surreal também tem espaços no Diário Oficial: numa mesma edição, o governador publica um ato nomeando um servidor como responsável pelo setor de transportes. Em página logo abaixo, é publicada uma portaria, dando conta de que o cidadão é alvo de uma sindicância para apurar roubo de...peças de automóveis na Secretaria onde é lotado. Dias antes, o motorista do ex-deputado Tião Gomes (PMDB), embora condenado a prisão em regime semi-aberto, ganhou uma sinecura no Maranhão III.

Interessante: com dois mandatos de governador, imaginava-se que José Maranhão tivesse até a capacidade de não se atrapalhar em tanto amadorismo. Mas é exatamente isso que está acontecendo. O Diário Oficial, exibindo fraturas expostas de um governo que ainda não se encontrou, evidencia um desconcertante despreparo até na rotina mais comezinha da gestão pública.

Deus nos ajude.