Frase

"A inveja consome o invejoso como a ferrugem o ferro." (Antistenes)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Dois servidores lotados na agência do IBGE em Itaporanga gastaram quase R$ 40 mil com cartões corporativos, dos quais R$ 29 mil na boca do caixa.

Diz-se que determinado cenário é translúcido quando o manto de luz que o recobre não permite que se vejam com clareza os objetos acomodados sobre o palco. É mais ou menos isso, caro leitores, o que ocorre com esse escândalo dos cartões corporativos que assola o País e se ramifica até aqui nesse nosso torrão: o Vale do Piancó. Os cartões corporativos foram criados em 2001 para substituir as chamadas contas do “Tipo B”. Antes, o servidor recebia dinheiro vivo, depositava em sua conta bancária e emitia cheques pessoais à medida que realizava os gastos. Dizia-se ontem e repete-se hoje que os cartões dão mais transparência ao gasto público, facilitando a fiscalização. O problema é que a facilidade levou ao exagero. De 2006 para 2007, as despesas feitas por meio de cartões de crédito corporativos cresceu 129%, alçando à casa de impressionantes R$ 75,6 milhões.
Leva-se em conta que os cartões não são portados apenas por ministros de Estado. Há na administração pública 7.145 funcionários autorizados a utilizar cartões. Alguns deles manuseiam mais de um cartão. O número total de cartões é de 13.567. Está entendido que o cartão corporativo é conveniente e necessário. Dá agilidade às compras emergenciais, de pequeno valor. Porém, descobriu-se que alguns ministros e servidores públicos federais, além de usar, abusaram do cartão. O que fazer? Simples: apuram-se os indícios de malfeito. Oferece-se ao transgressor a oportunidade de se defender. Confirmando-se o inaceitável, tenta-se reaver a grana e, se for o caso, levar o malfeitor ao Judiciário. O uso dos cartões governamentais é, desde sempre, um escândalo esperando para acontecer.
Oportunamente Josias de Souza, o mais conceituado jornalista e dono de um dos Blogs mais acessados no Brasil, escreveu o seguinte: “Na esfera das repartições públicas, existe a figura do ‘Nada’ que possui sólida existência. É difícil enxergar o ‘Nada’. Mas ele está lá. E como está! Experimente-se alcançar todos com os olhos. Tente-se enxergá-los em seus assentos. Inútil. Na maioria dos casos, o olhar atravessará o ‘Nada’ e irá bater no couro do espaldar da poltrona. Nos últimos dias, porém, o ‘Nada’ se tornou encontradiço. Ganhou densa visibilidade nas dobras dos extratos dos cartões de crédito corporativos. Descobriu-se que o ‘Nada’ não está na estrutura do Governo Federal a passeio. Primeiro, o país tomou conhecimento da existência de Matilde Ribeiro (ex-ministra da Integração Racial, que torrou 171.500 mil), o ‘Nada’ de saias. Agora, está sendo apresentado a Altemir Gregolin (ministro da Pesca que torrou 22.6 mil), o ‘Nada’ de calças. Os dois representam os milhares de ‘Nadas’ ramificados nas repartições públicas País a fora”.

No estado da Paraíba apenas vinte servidores do IBGE tem o privilégio de usar cartões corporativos e, destes, dois estão lotados na agência de Itaporanga. Juntos os dois gastaram exatamente R$ 38.246,93 (trinta e oito mil, duzentos e quarenta e seis reais e noventa e três centavos). Esse é o montante encontrado nos extratos que estão em nome de Eriogenil Alves de Araújo (Eri) e Francisco de Assis Nóbrega (Titico - foto), gerente da agência. Diga-se de passagem, que os dois são de conduta ilibada e gozam de extrema simpatia e respeito por parte da população local. Pelo menos até o momento. Mas o fato é que seus nomes estão relacionados nesse imbróglio. No extrato em nome de Eriogenil há um gasto de R$ 19.274 mil reais, dos quais R$ 17.850 mil sacados na boca do caixa; Já no extrato em nome de Titico há um gasto de R$ 18.972,93 mil reais, dos quais R$ 11.071,93 mil sacados na boca do caixa. No ano de 2006, foram gastos R$ 280,00 (Eriogenil) e R$ 5.100,00 (Titico); Em 2007, R$ 18.089,00 (Eriogenil) e R$ 12.572,93 (Titico); E já no início deste ano, R$ 905,00 (Eriogenil) e R$ 1.300,00 (Titico). Fora os saques feitos na boca do caixa o restante do dinheiro (R$ 9.325,00 mil reais) foi gasto em lojas de departamentos.
No levantamento da CGU, que mostrou a ponta desse iceberg nacional, engloba apenas os gastos com suprimentos de fundos para as repartições públicas. Despesas que, na contabilidade oficial, são chamadas de “Tipo B”. Ora, o que desgasta o governo não é a denúncia, mas o fato que a produziu. E transparência não é favor. É obrigação de qualquer gestor público. Onde ela não existe deve ser exigida. Onde ela existe, ainda que parcialmente serve justamente como ferramenta para que os jornais, o cidadão comum e a oposição levem os lábios ao trombone no instante em que forem detectadas transgressões.
Resta agora à platéia torcer para que os fatos, de novo, prevaleçam sobre as tentativas de controle. Se a fogueira for grande, deve-se estimular o governo a prosseguir ateando fogo às vestes. De preferência em praça pública. O que não parece razoável é continuar aceitando a queima indiscriminada e masssiva da única vítima inocente de toda essa crise: o dinheiro público.

2 comentários:

Unknown disse...
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Unknown disse...
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